Você provavelmente já ouviu alguém falar sobre o “dia do lixo”. Talvez até tenha adotado essa prática em algum momento — reservando um dia da semana para consumir alimentos mais calóricos, geralmente associados ao prazer e à descontração. Mas já parou para pensar no peso que essa expressão carrega? Chamar certos alimentos de “lixo” é uma forma equivocada (e até agressiva) de lidar com a alimentação. Essa expressão reforça a ideia de que alguns alimentos são “errados” ou “proibidos” — o que pode gerar culpa, ansiedade e uma relação disfuncional com a comida. Afinal, será que um pedaço de pizza ou um chocolate precisam ser rotulados de forma tão negativa?
Existe uma diferença fundamental entre o que chamamos de "comida recreativa" e o conceito pejorativo de “comida-lixo”. Alimentos recreativos são aqueles que consumimos com prazer, em momentos sociais ou afetivos, e que podem sim fazer parte de uma alimentação equilibrada. Eles não têm o objetivo principal de nutrir o corpo, mas cumprem um papel importante na nutrição emocional — e isso também importa.
Sim, nutrição também envolve afeto, memória, cultura e prazer. E tudo isso pode (e deve!) coexistir com saúde.
Expressões como “dia do lixo” fazem parte de uma mentalidade de dieta rígida, que separa os alimentos em “bons” e “maus”. Essa abordagem pode ser perigosa: ela incentiva ciclos de restrição e exagero, reforça a culpa e muitas vezes leva a comportamentos alimentares insustentáveis.
A nutrição não precisa ser sobre controle constante. Ela pode — e deve — ser sobre autonomia, consciência e equilíbrio.
Em vez de restringir e depois "compensar" com um dia livre, que tal aprender a encaixar os alimentos que você gosta na sua rotina de maneira equilibrada? Comer um doce no meio da semana não precisa ser um deslize. Comer um hambúrguer com amigos não precisa gerar culpa. O que importa é o contexto geral da sua alimentação — e não um único prato ou refeição.
Se você sente que sua relação com a comida está marcada pela culpa, pelo medo ou por ciclos de restrição, saiba que isso pode mudar. Em meus atendimentos, trabalho para desconstruir essa mentalidade de dieta e ajudar meus pacientes a reconstruírem uma relação mais leve, consciente e prazerosa com a comida.
Porque, no fim das contas, comida é afeto. É cultura. É saúde.
E, definitivamente, não é lixo.
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